BARROCO NO BRASIL - GREGÓRIO DE MATTOS GUERRA E SUA SÁTIRA







Brasileiro, de família rica, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, Portugal.   Sua poesia pode ser dividida em:
Sacra ( religiosa) - apresenta os conflitos: pecado X perdão - reconhece  a insignificância do homem perante Deus, a consciência do pecado e a busca do perdão. 
Amorosa - conflito amor carnal X espiritual.

Encomiástica São poesias de elogio, de circunstância (festas, homenagens, etc).  
Filosófica - Caracterizada por certo pessimismo e angústia, aborda os temas do desconcerto do mundo, da fugacidade do tempo e da incerteza da vida, pautando-se ainda nas contradições do espírito.
 "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? / Se tão formosa a Luz é, por que não dura? / Como a beleza assim se transfigura? / Como o gosto da pena assim se fia?"(“Inconstância das coisas do mundo”).

Satírica - A sua produção mais original, por causa dela ficou conhecido como Boca do Inferno, pois não denunciava a corrupção, criticava a incapacidade dos governantes portugueses no Brasil, o clero, os costumes, a passividade dos brasileiros.   

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA – A SÁTIRA


Desde o Descobrimento, o Brasil exercia grande fascínio no Velho Mundo, conquistadores da Nova terra se encantavam com a vida dos nativos,  com as cores exuberantes da natureza e sobretudo com a abundância de minérios preciosos, o mundo edênico era por fim encontrado e ...explorado.
Paradoxalmente, morar na terra “fértil” era impossível, mas a atração pelo ouro sucumbia ao desejo de partir definitivamente, para  que esses exploradores  explorassem  ao .
No século XVII, o Brasil já era explorado pelos portugueses, com a retirada de suas riquezas naturais para a Metrópole, altos impostos cobrados pelos fidalgos portugueses, que anteriormente aqui tinham chegado como meros aventureiros.
Neste contexto temos então o poeta baiano Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, pela sua língua ferina, irreverente.  
“Filho de senhores de engenho na Bahia, irmão do pregador Eusébio de Matos, colega em Coimbra de Botelho de Oliveira, Gregório só voltou ao Brasil perto dos cinquenta, e só viveu no país, adulto, pouco mais de quinze anos; entretanto, sua obra, parece ter sido toda escrita na terra natal. Largou elevado cargo religioso para casar com uma viúva, mas não demorou a abandonar família e trabalho (advocacia), num impulso Boêmio bem semelhante ao que tomaria, nos Velhos Marinheiros de Jorge Amado, o famoso Capitão Vasco Moscoso de Aragão...”( José Guilherme Merquior).
Gregório através de sua poesia satírica, nos alerta contra a figura dos representantes da coroa portuguesa. Graças à fusão da sensibilidade pessoal com os pressupostos estéticos do Barroco, Gregório de Matos decompõe sua realidade e aponta-lhe as partes, ora aos pedaços, ora em contrastes. Em sua mão, o transformismo característico do Barroco, no qual embute a noção da mutabilidade constante e veloz, encontra campo fértil quando o poeta nos alerta para a ascensão social do colonizador, de artesão passa rápido à condição de fidalgo. (Antônio Dimas).
Pelo viés da poesia satírica e pela cultura popular, Gregório de Matos usa sua poesia para desmascarar os vícios e a miséria política em que sua província havia mergulhado. A linguagem satírica residente em suas poesias destrona as autoridades e carnavaliza a pobreza. Mergulhado no contexto cultural baiano que deita suas raízes num passado português-ibérico-europeu da tradição popular, Gregório busca uma nova linguagem que o representasse bem como um novo signo para expressar as formas de um mundo, carnavalizado, um mundo às avessas.

No poema a seguir temos a técnica da Disseminação e Recolho, ou seja, as palavras terminam os versos de uma estrofe que encerram a estrofe seguinte, o efeito que este procedimento provoca é a participação do leitor na poesia, uma prática da literatura oral, enfatizando a oratória do poeta.  


Poemas  Satíricos de Gregório de Matos

 Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

 E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.


 O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence


Eu sou aquele, que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios, e enganos.
(...)
 De que pode servir calar, quem cala,
Nunca se há de falar, o que se sente?
Sempre se há de sentir, o que se fala!

Qual homem pode haver tão paciente,
Que vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire, e não lamente?
(...)
O néscio, o ignorante, o inexperto,
Que não elege o bom, nem mau reprova,
Por tudo passa deslumbrado, e incerto.

E quando vê talvez na doce trova
Louvado o bem, e o mal vituperado,
A tudo faz focinho, e nada aprova.

Diz logo prudentaço, e repousado,
Fulano é um satírico, é um louco,
De língua má, de coração danado.

Néscio: se disso entendes nada, ou pouco,
Como mofas com riso, e algazarras
Musas, que estimo ter, quando as invoco?

Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas,
E se foras Poeta, poetizaras.
(...)
Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Esse só me censure, esse me note,
calem-se os mais, chitom, e haja saúde


Dúvidas? novaciadacatarse@gmail.com

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